A segurança do trabalho vai muito além de ter um bom EPI. Quando se trata do manuseio manual de cargas, a má postura, o peso excessivo e a frequência podem levar a doenças graves, como lombalgia e hérnia de disco. Para profissionais de ergonomia e gestores de segurança, é crucial não apenas identificar esses riscos, mas também saber como solucioná-los de forma eficaz.
O Que é Manuseio Manual de Cargas?
Manuseio manual de cargas é quando um trabalhador precisa movimentar (abaixar, levantar, transportar) uma carga apenas com o uso dos braços, sem o auxílio de equipamentos mecânicos, hidráulicos ou de automação. O risco de lesões e doenças osteomusculares aumenta quando há excesso de peso, má postura, manuseio incorreto ou alta frequência.
O que define uma “carga” para a ergonomia? Não é qualquer peso que se enquadra como “carga” a ser analisada. Objetos com peso inferior a 3 kg geralmente não predispõem a riscos na coluna. No entanto, podem causar outros problemas ergonômicos, como lesões por repetitividade ou por má postura.
Para que uma atividade seja classificada como um risco ergonômico (e não apenas um fator de risco), as variáveis de manuseio devem estar fora dos limites de segurança. Essas variáveis incluem:
- Peso da carga: Excesso de peso (acima de 25 kg para homem e 15 kg para mulher, dependendo do contexto).
- Altura da pega: Cargas muito baixas (no chão) ou muito altas (acima da linha dos ombros).
- Ângulo de torção do tronco: Gira o tronco ao invés de se posicionar de frente para a carga.
- Distância horizontal da pega: Pega a carga longe do corpo, aumentando o braço de alavanca.
- Frequência de manuseio: Repetição constante da atividade ao longo do dia, sem pausas.
- Tipo de pega: A pega é ruim, sem apoio ou com dificuldade para segurar a carga firmemente.
Passo a Passo: O Caminho para a Solução
O primeiro passo para solucionar um risco é entender a sua origem. De acordo com a ergonomista Débora Dengo, não adianta apenas aplicar uma ferramenta de análise e constatar a existência do risco. O trabalho real começa quando você compreende por que ele existe. A solução deve ser específica para a variável que está causando o problema.
Exemplos de soluções para cada tipo de risco:
- Risco por Excesso de Carga: Se o peso da carga é o problema, a solução é o uso de equipamentos de auxílio (como paleteiras, carrinhos ou girafas) ou o fracionamento da carga (dividindo-a em volumes menores).
- Risco por Torção de Tronco: A solução é o treinamento ergonômico para orientar o trabalhador a se posicionar de frente para a carga e a fazer o manuseio correto. Em muitos casos, uma melhoria no layout do setor é necessária para garantir que o espaço permita essa movimentação.
- Risco por Altura da Pega Baixa: O ideal é que a carga esteja a 75 cm do chão. Como isso nem sempre é possível, a solução pode ser a elevação da carga por meio de plataformas elevatórias, o uso de manipuladores a vácuo ou a automação do processo.
- Risco por Distância Horizontal da Pega: O ideal é que a carga fique o mais próximo possível do corpo do trabalhador. Ações incluem treinamento para que o colaborador se aproxime da carga e reorganização do layout para que os itens mais pesados ou manuseados com mais frequência fiquem nas posições mais acessíveis.
- Risco por Pega Ruim: A solução é a melhoria da pega na própria embalagem da carga, como a adição de alças ou modificações que permitam ao trabalhador fechar a mão e ter mais controle.
- Risco por Alta Frequência: Se a frequência de manuseio é o problema, a solução é o uso de equipamentos de auxílio, a automação da tarefa ou o rodízio de tarefas para que o trabalhador tenha pausas e alterne as atividades.
Ao pensar em soluções, lembre-se de que a complexidade da solução aumenta com o número de variáveis de risco. Quanto mais variáveis estiverem fora do padrão, mais complexa e custosa será a intervenção. Por isso, a análise precisa e detalhada é fundamental.